sábado, 25 de outubro de 2008

Revista Veja e a análise do fracasso na educação

Recentemente, a reportagem de capa da revista Veja é uma análise sobre o fracasso da educação em nosso país. O tema gerador é bem pertinenente, e eu como professora o considero mais do que urgente: embora a grande maioria dos alunos brasileiros não saiba interpretar um texto ou fazer operações matemáticas básicas, os pais andam muito satisfeitos com a qualidade da educação que os filhos recebem.
Os pais das escolas particulares elogiam as escolas limpas, com quadras de vôlei, piscina e aspecto de shopping center. Os pais das escolas públicas agradecem ao fato de os filhos estarem sendo vigiados em um ambiente fechado e receberem merenda e livros didáticos de graça. Eu que trabalho em escolas públicas observo, inclusive, que muitos pais agradecem ao fato de os filhos estarem na escola e não em casa dando dor de cabeça, ou que, pelo menos por algumas horas do dia, estarão em um local seguro - longe do divertimento perigoso das ruas - enquanto eles trabalham.
Porém, o artigo da revista Veja foi um tanto limitado, porque enfocou todo o problema em um só aspecto: o ensino ideologizante que está tomando conta de todas as instituições. Sim, eu observo que este é um problema. Mas o que não compreendi bem, é que de acordo com a reportagem, esse parece ser o único problema. Quando terminei de ler a matéria, fiquei procurando nas páginas seguintes aonde eles iam abordar os outros aspectos envolvidos no fracasso da educação, mas a reportagem havia terminado.
O problema esteja, talvez, no modo como a reportagem foi anunciada na capa. Dá a entender que o tema é o fracasso da educação no país, o que nos leva a pensar em diferentes fatores - má formação dos professores, indisciplina, gestão ineficiente do ensino público, etc. - e também, é claro, podemos incluir a influência maléfica do ensino excessivamente ideologizante. Porém, a reportagem se foca somente no problema da ideologia. Então fica a impressão de que, não fosse o "perigo vermelho" infiltado nas escolas, o problema da qualidade de ensino estaria resolvido.
Porém, em minha experiência, percebo que os barbudos marxistas ainda são uma minoria entre os professores. A maioria deles sofre de grave pobreza intelectual, mas poucos são os renintentes do maio de 68.
Realmente, concluo o que já havia visto em diversas outras situações: a Veja traz reportagens superficiais, e faz o mesmo tipo de ideologia barata que tanto critica.
Devolvendo a acusação que a Veja faz aos lunáticos defensores de Marx e Paulo Freire: crianças, cuidado com o que seus pais andam lendo! Eles podem estar sendo influenciados e emburrecidos...

sábado, 30 de agosto de 2008

Xuxa, Rouge e o pacto com o diabo



Quanto Belzebu quer pela minha alma?

Na aula da 8a. série, uma aluna minha anunciou que nossa rainha Xuxa e o "talentosíssimo" grupo musical Rouge havia comprovadamente feito pacto com o Diabo em troca de sucesso garantido.

E eu aqui lembrando o Satâ consagrado pelos versos de Baudelaire (oh, Satan, prends pitié de ma long misère!), do gloriosíssimo Mefistófeles, cantado por ninguém mais nem menos do que Goethe, ou mesmo do anjo decaído do Velho Testamento. Os demônios da cabala com seus nomes tenebrosos, inclusive Samalael, o guardião do abismo onde se concentra a energia proveniente da maldade humana. O demônio do Malleus Maleficarum, que se travestia de súcubos e íncubos para atacar vítimas incautas durante o sono e satisfazer seus desejos carnais perversos. Estou tentando compreender o que houve com esse velho revolucionário,belicoso, sedutor implacável: o que teria levado o "pobre diabo" (a expressão cabe muito bem agora) a se tornar o "empresário" de artistas de tanto mau gosto.

Será mesmo que o diabo pagou milhões por uma simples alma, proveniente de uma singela alemoa de Santa Rosa, tornando-a milionária e um "xuxexo" insuportável por mais de vinte anos? (Será que se eu oferecer a minha, ele me paga uns 500 mil, ou pelo menos, me dá um carrinho popular)?

Quando Raul Seixas afirmou que o Diabo é o pai do Rock, achei isso pouco erudito, mas ainda de bom gosto. Adaptou-se aos novos tempos. Li no livro de Paulo Coelho, "As Valquírias", sobre as consequencias nefastas da amizade que a dupla Paulo Coelho e Raulzito mantinha com o Capeta, sobre buracos negros se abrindo no meio da sala... e já achei o negócio meio trash. Quer dizer que o Diabo andou compactuando com dois hippies maluco-beleza? Mas até aí, tudo bem, ele tem senso de humor...

Depois vieram os Menudos! Lembro que na capa de um dos discos, onde você ouvia o clássico "Não se reprima", os meninos usavam pulseirinhas ou escondiam o pulso atrás das pranchas de surf. Mas era evidente! Como poderíamos não ter percebido? Escondiam as marcas 666 gravadas no pulso. Que óbvio! Mas ficava mais assutador ainda quando você ouvia "Não se reprima" de trás para a frente. Dava pra distinguir as palavras "Satanás viiiiiiiiiive! Satanás viiiiiiiiiiive!" Fiz a experiência na casa do meu primo. Não dormi várias noites, e tive que pagar anos de analista para vencer o trauma.

Sim, o Diabo lançou os Menudos no mercado, para perder almas pré-púberes e conduzi-las ao inferno. Velho pedófilo! Eu não o perdoaria, se não fosse ele também o responsável pelo sucesso do Rolling Stones. Um grande feito neutraliza um ato de imbecilidade.

Mas o que me impressiona é é fato de o Diabo estar comprando almas, e o pior, não utilizando nenhum critério de seleção. Nunca pensei que ele precisasse "abrir as pernas" de tal modo para arrebanhar adeptos. Pensei que já havia nesse mundo gente ruim o suficiente para ser arrastada pros quintos dos infernos de graça. Afinal, não tivemos no século XX as piores guerras, e os piores carrascos? Para onde foi a cambada de colaboradores do fürer? Acreditei até que o inframundo fosse um lugar superlotado, que estivessem constuindo edifícios lá dentro do Lago de Fogo de Geena, com apartamentos de 2X2 para colocar toda essa gente. Mas agora descubro que andam incentivando a imigração! Será que também estão desenvolvendo políticas de incentivo à natalidade do tipo "aqui sexo é liberado, mas não tem camisinha"?

A única resposta lógica que eu tenho para isso é que essa é uma nova manobra diabólica para torturar as almas humanas que cairem nas moradas infernais. O Diabo teve que encontrar os piores talentos e fazê-los, mediante suborno milionário, produzir músicas insuportáveis que fariam parte da trilha sonora daqueles que estariam condenados à danação por toda a eternidade.

Ouvi falar de um pastor evangélico que desceu ao inferno e voltou apavorado, um milhão de vezes mais fanático, pois conferiu que lá em baixo se passa toda a eternidade ouvindo a "Ragatanga", "Ilariê" "Remelexuxa" e "Beijinhos Estralados". Aqueles que tem pecados mais cabeludos são obrigados a fazer as respectivas coreografias sobre as brasas... será verdade?

Me proponham outra teoria para explicar porque o Grande Anjo Negro foi rebaixado à 5a. categoria. Senilidade? Ou simplesmente descobriu que para desencaminhar as massas humanas, tem que usar uma demagogia mais medíocre, e que quanto mais idiota o refrão, maior seu poder de influência?

De qualquer modo, encontrei a solução para os endividados: se vender a alma é tão fácil, vamos aproveitar enquanto o valor de mercado ainda está alto. Senão a oferta fica muito maior do que a procura, e Belzebu vai estar pagando uma merreca pelo que você tem de mais sagrado. Isso se não houver uma crise de superprodução e a mercadoria (nossas almas) ficar estourando no estoque. Pra valorizar o preço, vão ter que queimar o excesso (ah, mas daí o inferno sai de graça)!

No final das contas, confesso: estou sinceramente decepcionada. Vou virar católica praticante! No chance for hell!

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Não estou deprimida!


E por que raios sinto como se não tivesse nada a dizer?

Para essas almas meditabundas e melancólicas que se identificam profundamente com neuróticos egocêntricos como Woody Allen, não estar deprimido é sentir-se preso a uma incômoda normalidade.

Nós, os existencialistas, que vivemos mugindo nossa incapacidade de ser felizes com os prazeres que agradam às massas, procuramos, cavamos, futricamos culpas e defeitos irreparáveis que talvez tenhamos deixado para trás. Estou feliz? Falha trágica, "hibris": devo estar me afundando na lama, sorridente e auto-confiante, mas ainda não enterrei a cabeça o suficiente para me dar conta do fato.

Quando na fase em que se repete, às marteladas o doloroso "Ai de mim, cruel destino me atingiu", sou tocada por um profundo sentimento de sabedoria e criatividade, e fico urgindo qual será o próximo tema a postar no meu bolg, ou escrveo compulsivamente em meus diários. Agora, passada a nuvem negra, quem sou eu? Professora, trabalhadora, que aprendeu a respeitar prazos e horários e só quer sair do cheque especial e arrumar algum programinha maneiro pra fazer no fim de semana. Antes de dormir, onde estão os pensamentos grandiloqüentes a me tirar o sono? Eu simplesmente torço para que tenha um filme decente no Telecine, ou para que, ao chegar na locadora, eu não esqueça os nomes de todos aqueles filmes que eu queria tanto assistir.

Estou delirando em acreditar que certas pessoas provoquem o próprio sofrimento só para se sentirem sábias, ou para terem o rompante de botar fogo no ninho, atirar pro alto tudo o que é seguro e fazer algo inusitado, fora do cronograma e sair daquela rotina feliz e segura?

No meu caso, acredito que sim, invento problemas, porque tenho essa obsessão por mudanças internas, jogar fora velhos hábitos, revolucionar o pensamento. Mas perto dos 30, acho que não tenho mais aquela predisposição romântica para a depressão e para a melancolia prolongada - até porque ficar profundamente deprimido quando o mundo lá fora está pouco se lixando para você caso não tenha forças pra cuidar da própria sobrevivência é muito arriscado. Estou disposta, sim, de fechar o ciclo de Fênix - morre e renasce das cinzas - pra assumir que a vida pode ser tranquila e ao mesmo tempo, ter nuances, sobressaltos e surpresas.

Está na hora de compreender que viver com tranquilidade e paz de espírito não significa, necessariamente, viver estagnado.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Na minha adolescência não tinha internet... ainda bem!

Hoje estava numa daquelas prolongadas reflexões que a gente tem no ônibus, quando está de farol baixo, dormitando... estava imaginando como eu teria vivido meus amores de adolescência se, naquele tempo, tivesse internet.
Lembro do dia em que liguei para o meu grande amor... dos monossílabos dele do outro lado da linha... nossa, quantas interpretações possíveis para frases tão significativas quanto: "é"... "tá"... "pois é"... Liguei para o telefone convencional dele, que não lembro como consegui... acho que foi com o primo da minha amiga. Geralmente quem atendia era algum familiar, o que nos deixava mortas de vergonha. Mas a voz embargava, tremia, e você ficava imaginando que aquela songa-monga do outro lado da linha seria sua pretensa futura sogra. Ou cunhada. Ou o sogrão...
Pois é... tinha que ligar mesmo, porque não dava para deixar recadinho no orkut, nem mandar mensagem para o celular. Scrapbook era um mural que tinha na Livraria Sulina (hoje Digital) do shopping... era incrível, mas todo o mundo ia lá olhar os recados. Nunca recebi nenhum (lágrimas).
E como era a nossa vida sem celular? Com certeza, nossos pais sabiam muito mais sobre a gente do que gostaríamos. Tive uma amiga que sempre temia que a mãe estivesse ouvindo do outro lado da linha, ou que estivesse por perto. Lembro o dia em que ela queria me contar que tinha menstruado (ou seja, a farra inconsequente não tinha dado em neném). Dizia pra mim "mens!" "O quê?" "Mens!" E eu, tansa, não compreendia a mensagem em código que ela me passava... até que desembuchou tudo, morrendo de raiva... acho que a mãe não ouviu, porque ela continua viva, forte, e já tem dois nenéns...
Ai, ai, uma foto do amado... as vezes uma amiga tinha ido à alguma festa na qual ele estava e tinha a cara de pau de pedir para bater uma foto dele com os amigos. Tirada com uma máquina Love, ou com uma "melhorzinha", e o que você via da cara dele era um borrão no meio de um monte de cabelos (sim, amávamos os cabeludos), mas já servia para guardar aquela fotografia como se fosse um autêntico pedaço da cruz de Cristo. E hoje? Olha as fotos dele no orkut! Se ele ainda é dos renitentes que não quer ter perfil no orkut, ou porque é muito discreto ou muito burro pra montar um, você sempre acha um amigo (ou amiga) do pretendente que tem fotos no álbum... e fica lá olhando com cara de sonsa pra tela do computador... e mudando as configurações de perfil pra não mostrar suas constantes visitas, assim mantendo o anonimato... e fica sabendo do seu amado muito mais do que o que gostaria.
Imagino eu, aos quatorze, olhando no orkut as fotos do meu divino e gracioso... ele agarrado a lindas menininhas louras do Santa Catarina, e colocando nas fotos legendas em miguxês... ele que me tratava feito um cão leproso... e se ele colocasse lá no perfil "namorando"? Ah, eu cortava meus pulsos... minha auto-estima de lolitinha de 1,56 vivia abaixo de cu de cachorro, e a foto de alguma adolescente fogosa teria me feito despedaçar em comparações virulentas, desde o tamanho de meus quadris até a inferioridade do meu poder de sedução. Oxala, no meu tempo a gente só sabia das coisas por que alguém que estudava na mesma escola que o nosso afeto comentava, que ouviu de um amigo de um amigo, e a gente podia selecionar os comentários e só acreditar no que queria.
E as cartas? Quando não tinha e-mail, tinha que arrumar alguém pra servir de pombo correio. Lembro de uma cartinha em papel de carta do snoopy que mandei pro meu primeiro amor, aos treze anos. Sei que os adolescentes ainda se mandam cartinhas, vejo meus alunos fazendo isso o tempo todo. Que bom que seja assim. Acho que nenhuma caixa de e-mail substitui a velha caixa de papelão decorada, ou o bauzinho de madeira onde se guardam essas lembranças. Quem é que tem paciência pra revirar uma caixa de e-mails e ler os velhos? Talvez até se faça isso, mas a sensação de ter um papel bonitinho nas mãos, e uma letra personalizada, é indescritível.
A as músicas? A gente ficava grudado no rádio esperando dar aquela que queria gravar, numa fita casseta, no som "3 em 1" , e amaldiçoava o idiota do locutor que largava uma frase infame bem no meio da música. E as Biz letras traduzidas? Minha irmã colecionava, e aprendi inglês com elas. Talvez se fosse hoje, eu teria perdido mais tempo falando bobagens no msn do que procurando letras de música.
E quando sentia necessidade de aprender alguma coisa nova, ia para a Biblioteca Pública. Hoje, vejo meus alunos - enão só eles, como seus pais, professores, etc - glorificando a internet como fonte de todo o saber do universo, mas a verdade é que essa piazada anda cada vez menos informada... em cultura geral, conto nos dedos os que se interessam e se sobressaem. De que adianta tanta informação disponível, se o mesmo veículo que te dá informações úteis também te oferece a possibilidade de passar um longo tempo em ócio mental escrevendo bobagens (e assassinando o português)? E porque será que as pessoas quase sempre escolhem o que se oferece de pior, o que as imbeciliza e rouba seu precioso tempo com entretenimento inútil?
Bom, estou ficando saudosista... uma velha ranzinza que diz "no meu tempo era melhor"... enfim, como os nossos pais! Estou compreendendo que tem uma geração mais nova que eu que está além do meu entendimento. Mas de uma coisa tenho certeza: a inexistência da internet contribuiu - e muito - para a minha formação sentimental e intelectual. Será que eu teria largado o msn para ler Fausto? É de se duvidar...

terça-feira, 8 de julho de 2008

"E na época, Deus, eu te perguntei: 'Por quê'?"


Essa foi muito boa!
Minha amiga foi visitada pelo ex namorado...
E ela disse que ocorreu justamente essa idéia... de levantar as mãos pro céu é dizer: "E na época, Deus, eu te perguntei: 'Por quê'??"
Dizem que devemos compreender os desígnios ocultos do divino quando alguma desgraça nos acontece... quem sabe não foi pra salvar a gente do inferno?
Tá na fossa? Já ouviu cem vezes o disco da Mayza Matarazzo? Até deixou rolar uma lágrima ouvindo Bruno e Marrone? Pois bem, há consolo... Já pensou que aquele popstar por quem você está disposta a cortar os pulsos pode vir a ser tornar um ogro?
Quando bater aquela dor no coração, pense dez anos no futuro... aquele lindo mancebo ficando careca, gordo, endividado, e vocês com quatro filhos ranhentos (o dito ex da minha amiga é tetra-pai)...
Um dia você pode levantar as mãos pro céu e dizer: "Deus, e na época eu te perguntei: 'Por quê'!!!? VALEU!!!!"

terça-feira, 17 de junho de 2008

Tô carregada!


Aos meus amigos que chegarem perto de mim por esses dias, aviso: tô carregada!
Tomem banho de sal grosso ou visitem uma terreira daquelas bem tarimbadas pra tomar uns passes...
A quem ouvir minhas mazelas, recomendo exorcismo!
Pois hoje na minha aula de técnica vocal meu professor me apresentou as varetas de radiestesia (duas varetas paralelas apontadas na mesma direção, presas por uma haste perpendicular) que ele havia enjambrado, e me explicou: se as varetas ficam com as pontas viradas pra fora, a energia está boa, mas se as pontas viram pra dentro e se cruzam... é energia ruim.
Pedi que virasse as varetas pra mim... e não é que as duas se juntaram, imediatamente, e se cruzaram? Eita energia negativa!! Isso é que dá ficar entrando em pandarecos por problemas inexistentes (são os piores: o que não existe não se resolve).
Vou no centro espírita na quinta, ver se dou um jeito na situação. Até lá, sinto muito, mas estou de quarentena: energia ruim é altamente transmissível.
Quem puder, inclua meu nome em alguma corrente de pensamento positivo, tá?

domingo, 15 de junho de 2008

Epitáfio

Se fossemos escolher os pensamentos que seriam inscritos em nossa lápide, o que colocaríamos?
Li a respeito de um psiquiatra que fazia essa pergunta aos seus pacientes. Mórbido? Ele obtinha excelentes resultados no processo de cura.
Afinal, se pudéssemos definir a nós mesmos dentro de umas poucas linhas pelas quais gostaríamos que fossemos lembrados para a posteridade, o que diríamos? Reproduziríamos aqueles pensamentos auto-punitivos inúteis sobre os quais ficamos martelando por várias horas, a respeito do que disse o chefe, o namorado, o EX namorado (pior ainda), a mãe, o pai, os professores, os filhos? O que eu colocaria no meu epitáfio? Algo do estilo: Giórgia, que não conseguia manter organizado o seu roupeiro. Giórgia que perdeu 3 carteiras de identidade. Giórgia, que entrava em depressão por pensamentos completamente inúteis. Acho que não seriam bem essas observações que eu colocaria, embora eu tenha que reconhecer que já perdi horas inúteis me revirando em torno de tais picuinhas. Mas porque será que o que menos importa a nosso respeito são justamente aqueles julgamentos que mantemos por mais tempo em nossa consciência?
Há aquele maldito hábito que desenvolvemos de somente nos enxergarmos a partir dos olhos de outros. Ou pela maneira que nós acreditamos que outros nos enxergam. Criamos nós mesmos os monstros que distorcem a nossa auto-imagem, e os atribuímos à criação de outrém.
Porém, de uma coisa tenho certeza: passaremos muito mais tempo mortos do que vivos. Então porque se punir e criticar tanto por coisas tão pequenas? E depois que morrermos, a imortalidade consistirá em deixar algo que persista para os que virão: ensinamentos, exemplos, registros... e de que importará se o armário era organizado? Se a casa estava limpa ou não? Deveríamos formar nossa auto-imagem a partir de coisas que persistem, e não de futilidades.
Afinal, o que vou escrever na minha lápide? Talvez... "eu amava livros", ou "eu conquistei amizades sinceras"... "Giórgia, que compreendeu o valor de uma boa conversa, profunda, íntima, sensível, e que aprendeu a ouvir".... "procurei o sentido da vida, não achei, mas ri um bocado e me diverti diante desse absurdo que é estar vivo... valeu a pena não ter encontrado o dito sentido!"

Reencarnações

Nossa!
Acho que encontrei o protótipo do esoHistérico.
Um maluco que se diz a reencarnação de Leonardo da Vinci, Aleister Crowley e Maysa Matarazzo.
Vi seus quadros: canalizações de Cèzanne, Da Vinci, Gauguin, Tarsila do Amaral e Van Gogh. Flores, anjinhos, fadinhas... um amor! Muuuuito próximo ao estilo desses pintores!
E tem mais uma: o cachorro guaipeca dele, um vira-lata preto, é a reencarnação de Bucéfalo, o cavalo de Alexandre o Grande!
Vai entender...

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Quem julga é criminoso!

Incrível a habilidade que certas pessoas tem de se safar de seus próprios defeitos a partir do julgamento que fazem de outras.
Maconheiros, bandidos, viciados... o que seria do nosso belo quadro social sem eles? Afinal de contas, precisamos de um bode expiatório... alguém mau de verdade, perto de quem nos sentimos bons e dignos.
Viveríamos num mundo sem crimes hediondos? Isso causaria o desespero de muita gente... sem crimes bárbaros com os quais se comparar, teriam que encarar com maturidade seus próprios defeitos. Porém, precisamos cuspir e vilipendiar pais que atiram seus filhos da janela... assim muitos podem esquecer a responsabilidade que tem diante de seus próprios dramas e conflitos familiares... "afinal de contas, tenho defeitos, mas ISSO eu não faço." A lógica da hipocrisia. Me sinto o melhor de todos os seres humanos quando estou diante de alguém que cometeu um crime monstruoso. Glória à imprensa, que me dá a grande oportunidade de ter alguém a quem culpar!
Assumir os próprios erros sem tentar se safar listando erros piores é uma dádiva de caráter que poucos possuem.
Rancor... ódio... hipocrisia... preconceito... moral dupla e falsa... falhas de caráter piores que qualquer vício! Que qualquer conduta "imoral"... mas tão perdoáveis aos olhos de nossos cidadãos bem adequados à nossa justíssima sociedade!

sexta-feira, 30 de maio de 2008

O amor: filmes

Falar em filmes românticos... ou não tão românticos assim. Afinal, as paixões não se fazem só de beijos magnifícos e reconciliações... há a dor, o ridículo, o absurdo.

O amor romântico é para os fracos... mas ainda quero conhecer alguém suficientemente forte pra se safar dessa pieguice. Afinal de contas, o que há de comum entre o doutor em Astrofísica e o mané da padaria? Ambos já pensaram em cortar os pulsos no frenesi de uma jura de amor rompida ou dizer para alguma mulher: "sua desgraçada"! O que há de comum entre uma mulher superexperiente pós grad
uada em relacionamentos e com vida profissional de sucesso e uma ninfeta de 12 anos que bate o o pé para ir à escola? Ambas ficam eufóricas quando recebem uma mensagem de seu pretendente no celular, ou não desgrudam do maldito aparelho porque a maldita mensagem nunca vêm.

"A mon avis", quais são as melhores cenas de amor que já vi em filmes? Não sei porque, tenho uma preferência por amores em contradição. Não pelo lado belo do amor, mas pelo ridículo, pela estupidificação da razão... Platão, em "O Banquete", deixa o melhor para o final: depois que todos expõem suas idéias sobre a beleza do amor, Sócrates toma a palavra, e relata o que ouviu de Diotima (uma mulher sábia em Atenas?): o amor não é belo: é feio, sujo e mendicante. Mas busca o que é belo e sublime. E nessa busca, como ficamos frágeis... nus diante de nossas deficiências! Abaixo, algumas cenas memoráveis:

"Magnólia" (1999- EUA - Direção de Paul Thomas Anderson): esse filme não possui uma, mas várias cenas de amor memoráveis. O policial correto (foto ao lado - John C. Reilly como Jim Curring - se preparando para sair... repare no crucifixo que ele mantém em cima da cama) e a maluquete viciada em cocaína. Marcam um encontro quando ele vai até a casa dela, respondendo a uma denúncia de que ela havia ligado o som a um volume insuportável ( música de Aimee Mann - maravilhosa). No encontro, ela está com a cocaína saindo pelos poros, e nervosíssima. Afinal, aquele era o extermo oposto dos encontros aos quais ela estava acostumada. Os dois mantém um breve diálogo e ele fala: "vo
cê tem um vocábulário pesado!" Ela o beija de leve, e se desculpa por ser o tipo de pessoa com quem ele nunca deveria se envolver. No final do filme, depois da chuva de sapos (quem entender o porque daquela chuva me explique), ele a encontra, e diz que vai cuidar dela... no seu jeito meio pedagógico de policial correto.
Fico pensando naquelas pessoas que se deparam com essa situação: encontram alguém por quem julgam não merecer serem amadas. Mas mesmo por trás da máscara da pordridão (algumas pessoas usam máscaras que as mostram piores do que realmente são, ao contrário da maioria) há a possibilidade de alguém revolver o lix
o e ver o que há de belo (uma das crenças que mantenho no verdadeiro amor).
Ainda em "Magnólia": A mulher que casou por dinheiro com um ancião uns quarenta anos mais velho( imagem ao lado, J
ulianne More e Jason Robbarts, como Linda e Earl Partridge), confessa ao advogado que não quer herdar a fortuna do marido. "Eu fiz sexo oral com outros homens..." (confessa que foi uma vadia) "Meu marido está morrendo e agora eu descobri que o amo"! Atire a primeira pedra quem nunca descobriu que amava alguém só no momento da perda... há paixão mais arrebatadora, visceral do que aquela que se sente por alguém que vai partir?

"A festa de Babette" (Dinamarca, 1987 - direção de Gabriel Axel) - esse filme mostra um aspecto pouco comentado do erotismo, mas muito presente: se deliciar com um belo banquete pode ser uma ato erótico, uma explosão de prazer catártica. As personagens centrais são duas velhotas que cultuam a memória do pai, um pastor puritano de uns poucos adeptos. Levaram uma vida de austera simplicidade, e quando acolhem em sua casa uma cozinheira estrangeira que perdeu tudo o que tinha (bens e familiares), logo a integram ao seu sitema de vida, ensinando-a a cozinhar o estóico mingau de aveia que lhes serve de refeição todos os dias. Essas senhoras, nos áureos anos da juventude, foram amadas: uma pelo seu professor de canto e a outra por um gene
ral.
Babette, a cozinheira, recebe o dinheiro de uma herança pelo qual não esperava. Como um presente às senhoras que a acolheram manda vir, de lugares diversos, iguarias exóticas, com as quais vai cozinhar um banquete. Os ex-pretendentes das velhas senhoras estão convidados.
São de grande beleza as cenas em que mostram os convivas comendo. No final, um menino que limpa as mesas toma o restinho do vinho das taças. Detalhes que tornam um filme memorável.
A declaraçã
o de amor do general por sua antiga amada é comovente em sua simpl
icidade. Diz que durante toda a sua vida, enquanto ele sentava-se à mesa para fazer as refeições, era a ela que ele via, sentada, a sua frente. A fantasia de seu amor é a de um ato quotidiano: sentar-se juntos para as refeições.
A relação amor + gastronomia contida no filme nos faz lembrar que erotismo não é simplesmente coito, ato sexual, mas está presente em tudo aquilo que nos dá prazer. E viver o "eros" de forma realmente intensa quando descobrimos o prazer que se encontra em diversas atividade que nos despertam os sentidos e trazem à alma a sensação de plenitude.
Tamb
ém magnífica é a cena em que a velhinha tem pesadelos com as tartarugas e outros ingredientes misteriosos que serão usados no banquete. Será pecado comer com prazer? Pecado é tudo aquilo que desperta o prazer erótico. Veja os pecados capitais: um deles é a gula. Buscar um jantar perfeito pode influenciar na busca de um amor perfeito?

"Ata-me!" (Espanha, 1990 - Direção e roteiro de Pedro Almodovar) - Victoria Abril é a atriz
pornô Marina Osório. Antônio Banderas é Ricky, recém saído de uma instituição psiquiátrica, não sem antes satisfazer aos desejos da mais que balzaquiana psiquiatra que o atende (bem ao estilo Almodovar). Ricky mantém uma paixão intensa por Marina, ao ponto de invadir seu apartamento e a manter aprisionada. Marina não se recorda, mas em uma de suas aventuras noturnas em algum bar de quinta categoria, transou com Ricky no banheiro em troca de um baseado.
A solidão de Marina é demonstrada em uma cena cômica, na banheira, quando ela se diverte com um mer gulhador movido a pilhas, que nada "direto ao alvo". Enquanto Ricky Está em seu apartamento, a princípio, ela o repudia. Ele a mantém atada, mas não a obriga a ter relações com ele. Não demora muito para que o espectador veja que de duas almas perdidas pode surgir um belo encontro. Quando resolvem se entregar um ao outro, temos uma cena especialíssima, digna do diretor. Na cena que dá nome ao filme, Ricky sai para comprar drogas para sua amada. Pergunta a ela se não vai fugir enquanto ele estiver fora. Ela responde: "Yo no lo sé... Ata-me!". Inútil continuar a descrição...

Como dizia Camões sobre o amor "É querer estar preso por vontade". Nas paixões mais intensas há muito dessa louca submissão.

"O Primeiro Dia" (Brasil, 1999 - direção de Walter Salles e Daniela Thomas) - João (Luiz Carlos Vasconcellos) fugiu do presídio e matou seu melhor am
igo, Francisco (Matheus Nachtergale). Fernanda Torres é Maria, a jovem abandonada companheiro com quem vivia. Tudo isso ocorre no dia 31 de dezembro de 1999, próximo a tão festejada virada do milênio. João foge da perseguição policial, e vai se refugiar no terraço do prédio de onde Maria tensiona pular para a morte. No momento em que Maria vai pular, João a segura. Estouram os fogos de artifício na Praia de Copacabana. João e Maria se abraçam e dando tiros para o alto ele grita: "Ninguém mais morre nesta cidade! Ninguém mais morre neste país!" Filmado com orçamento baixíssimo, muitas cenas em tempo real (como a dos fogos de artifício), o filme é arrebatador, e a cena descrita é belíssima.
Na manhã seguinte, Maria nada no mar de Copacabana, e João fica na orla esperando enquanto a olh,a com um ar de encantamento que acredita-se que nunca mais teria lhe sido possível numa vida tão bruta. É morto, e a cena mostra uma pessoa qualquer dando-lhe o tiro pelas costas... não importa quem seja. Um desafeto qualquer, pois a vida que João levava já o deixara marcado. Acreditamos que a cena seguinte será Maria novamente tentando suicídio: mais uma vez está abandonada à própria sorte. Mas a sensibilidade dos diretores vai mais longe: ela volta ao apartamento, onde se desesperou diante do vazio deixado pelo companheiro e abre a janela, expondo-se a luz... na água, o batismo, na luz, a regeneração. O encontro de Maria com João não foi o início de um romance, mas a ressurreição de Maria.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Manifesto: Nós, os distraídos!

Distraídos de todo o mundo, uni-vos!

Nós os distraídos... tropeçamos no que está a nossa frente, porque olhamos mais ao infinito... nossos horizontes são mais largos...
Nós os distraídos temos grandes projetos que ocupam nossa mente, que fervilham nossas ideias... por isso esquecemos alguns compromissos imediatos: estamos em eterno devir...
Frequentemente perdemos as chaves de casa... mas abrimos muitas portas com nossas ideias geniais!
Perdemos pastas, documentos, dinheiro, celular... mas a felicidade não está justamente em se desapegar dos bens materiais?

Nós os distraídos sabemos do imenso valor de esquecimento. Somos também os grandes esquecidos da espécie humana! Pois temos consciência de que só se curam as dores da alma e do coração quando se pratica a maravilhosa arte do esquecimento. Nossas consciencias, meio adormecidas meio despertas tem poder de viajar por terras longínquas e se desligar tudo o que há de imediato.... não nos prendemos ao que é fugidio. Já diz a sabedoria dos orientais que tudo nessa vida é poeira ao vento: as paixões, as obrigações, as cismas. Por isso é que nós esquecemos, e assim mantemos a mente conectada com a Eternidade.

Nós os distraídos temos um imenso amor pela vida. Olhamos sempre ao alto, com olhos que parecem contemplar o vazio, mas escondem pensamentos em ebulição, que a nada se detém por muito tempo, mas a tudo transformam. Nosso mundo interior supera as mazelas desse frio mundo exterior. Somos donos de nossa própria realidade, e não aceitamos que o real nos seja dado como pronto: recriamos o mundo a cada segundo!

Nós os distraídos não queremos ser educados. Não queremos ser conformados!

Vocês, senhores corretos, que vivem a amargar o minuto seguinte, deixem nos viver imersos em nossa eternidade. Porque a vida é um breve momento, e depois dela só o que é eterno perdura!

domingo, 11 de maio de 2008

Absurdos da vida de professora #2 - revistinha pornô

Quem nunca se deparou com uma dessas revistinhas sacanas quando era adolescente? Sempre tem aquele seu colega que carrega uma dessas como um instrumento de poder e autoridade.
Lembro de uma ocasião em que uma colega, professora, recolheu uma dessas. Mas era daquelas bem cabeludas, de fazer corar até a Mae West. Quando a professora largou o objeto proibido em cima da mesa da sala dos professores, foi como se trouxesse os manuscritos originias da Bíblia. Gerou um tumulto geral em volta da resvita, um passa de mão em mão... olhos curiosos, exclamações de Ah! Oh! Teve até gente dizendo que ia levar pra casa, pra ver se o marido aprendia a fazer umas coisinhas diferentes...
Mas uma lembrança inesquecível foi de quando, naquele mesmo dia, mais tarde, fui até a sala da vice direção pedir alguma coisa... a porta estava entreaberta, fui chegando sem bater. E não é que a vice estava lá, sentadinha, concentrada na revistinha? O melhor de tudo foi a cara que ela fez quando me viu. Ficou toda sem jeito e já foi dando explicação: "Eu estava aqui olhando, os absurdos que esses alunos trazem pra aula, etc"...
(Claro, senhorita, eu entendo, isso é mera curiosidade antropológica)
(...)
São esses absurdos que fazem essa profissão valer a pena!

terça-feira, 6 de maio de 2008

EsoHisterismo: princípios


Um EsoHistérico, é mais do que um simples esotérico. Ele segue fielmente o páragrafo 195 da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão: "Pelo direito de se achar". Para ser um bom EsoHistérico, você deve seguir os seguintes passos:

- Busque sempre uma corrente de pensamento religioso que justifique suas mancadas. Quando não encontrar nenhuma, leia Nietzche, está na moda... diga que você não partilha de uma "moral de escravos" e como "super homem" está acima do bem o do mal. Mas lembre-se: isso é só para quando você já ferrou com a vida de bastante gente. E quando você ver que Nietzche não cura dor-de-cotovelo nem serve para aqueles momentos em que você está batendo com a cabeça na parede de tão nervoso, enfie o rabo entre as pernas e procure uma cartomante (eu ofereço meus serviços).
-Prefira um visual excêntrico, que te destaque de todos os demais seres viventes. Muito preto ou muito colorido. Veja o efeito que você causa nas pessoas: se elas não estiverem te olhando, é porque você não tem as devidas qualidades mágicas, e as energias do astral não vão te favorecer. Um bom EsoHistérico é uma vítima do sistema. Você deve ser olhado de maneira estranha, assim poderá bater no peito e dizer que é evoluído demais para esse planeta, e que suas energias entram em conflito com as dos néscios! Uma boa alternativa é você usar um sobretudo preto num calor de 40 graus, com uma maquiagem escura que lhe escorre dos olhos e que desperte nas pessoas alguma lembrança de infância dos vilões de contos-de-fadas. Lembre-se, a fórmula é essa: se você é amado e compreendido, então é um néscio!
-Na vida, recebemos constantemente sinais. Aprenda a reconhecê-los! Se você acordar algum dia sem vontade de trabalhar e ver um cachorro preto na rua, volte para casa, e diga ao seu chefe que os Mestres Ascensionados lhe mandaram um sinal de que aquele dia seria de mau agouro. Ele certamente irá compreender;
- Mostre que você tem amor à natureza, e através dela se integra com o mundo espiritual. Derrube alguns hectares de mata atlântica para construir uma casa super transada no meio do morro, e não esqueça de asfaltar tudo para que seus amigos esohistéricos lhe visitem. Decore a casa com estátuas indianas feitas de madeira de árvores retiradas da Amazônia por madeireiras clandestinas.
- Largue maçãs e doces para os gnomos sempre que tiver uma dor-de-cotovelo ou se endividar com bebidas e orgias. Eles certamente trocarão maçãs por uma conta polpuda no banco e um parceiro dotado de beleza e riqueza. É claro, que pra completar a conta (os danadinhos são gananciosos), vão roubar alguns objetos metálicos, como facas e tesouras. Mas cuidado para prover os serezinhos sempre com suas guloseimas, ou esses objetos pontiagudos podem ser usados contra você.
- Tenha um obsessor de estimação. Mas não esqueça essa palavra: OBSESSOR. Por favor, não fale em encosto, porque quem tem encosto é chinelão. Seu obsessor pode ser um grande aliado, assumindo a culpa por coisas que você se arrepende de ter feito. Por exemplo: seu encosto é alcoolatra, foi ele quem tomou seu corpo quando você encheu a cara e queimou o filme (um longa metragem do tamanho de Casablanca), brigando com todo o mundo e acordando no dia seguinte com um corpo estranho na cama, num quarto do Motel Venus (sem acento mesmo), ou quanto foi encontrado na sarjeta bem na frente do seu novo emprego.
- Descubra qual foi sua última reencarnação. Ou melhor: escolha. Porque talvez você descubra que foi um limpador de bosta de camelo em Djarabub, e isso não é informação que se divulgue. Lembre-se de encontrar alguém famoso, mas descarte algumas opções, que já reencarnaram tantas vezes que devem ter uma alma do tamanho do Maracanã. A Associação Internacional de Psicoenergética Imaterial Metafísica (AIPIM) possui dados sobre isso: vagando sobre a terra, expiando seus pecados passados numa vida de glória, há 23.897 reencarnações de Napoleão, 21.789 reencarnações de Cleópatra, 16.523 de Touro Sentado, 12.456 de Adolf Hitler, e mais umas tantas de Churchill, Lincoln, Gandhi e alguns outros figurões. Dom Pedro I também já tem um novo corpo: Fernando Collor de Mello se declarou ser sua reencarnação, e explica que o Impeachment é um karma antigo. Alguns nomes entraram na moda recentemente, como Edith Piaf e Jim Morrisson: você pode patentear seu direito de reencarnado antes que seja tarde. Garanta também o futuro de seus filhos: tem uns desencarnados quentinhos, saídos do forno, esperando por novos corpos, como George Harrisson e Joey Ramone. Você também pode esperar mais alguns anos por Fidel Castro, mas se for mulher, é perigoso que entre na menopausa antes que o velho decida finalmente partir. Dizem que há um séquito de fãs esperando que Amy Whinehouse finalmente tome uma overdose, assim poderá reencarnar nos seus pimpolhos.
- Fique rico! Crescer espiritualmente pode ser uma forma excelente de se atingir bens materias. Perdoe sua mãe, seu pai, sues ex-conjuges, desafetos (com excessão dos seus credores) e espere recompensas do céu como carro, um iate, uma mansão... esqueça aquele discurso de desapego aos bens materiais. Fique rico, exiba um belo sorriso, encha sua casa de bugigangas esotéricas e compre muitas roupas importadas da India e do Nepal.

Absurdos da vida de professora

Há um tempo atrás, estava lecionando a noite, para uma turma de umas seis almas viventes... nesse caso, como é de praxe, a gente aproveita pra bater um papo com aqueles poucos heróis que enfrentaram a chuva, o frio, ou deixaram de ir no show do "Tchê Garotos" pra assitir nossa aula. Não dá para passar revisão de prova, nem iniciar matéria nova, nem atividade alguma que tenha qualquer finalidade atrelada aos sagrados "conteúdos"...
Pois bem, tentávamos não dormir. Não sabíamos sobre o que conversar. Um dos meus queridos pupilos achou legal mostrar os toques do seu celular, mas foi fulminado com um olhar que deverá lhe trazer algum dano cerebral daqui a alguns anos...
Alguém teve a idéia de me pedir que eu contasse alguma história engraçada ou ridícula dos anos em que dei aula. Lembrei dessa:

Eu dava aula em uma escola que ficava cravada no meio de um parque. Árvores, vaquinhas pastando... no pátio da escola! Não tinha muro que marcasse os limites entre o parque e o colégio, e recebíamos a visita de todas as espécies animais que transitavam pelo local.
Naquele dia, eu estava em uma sexta série. Eu era uma jovem professora comprometida com o desenvolvimento intelectual e humanos de meus alunos. Eles, serezinhos que pipocavam hormônios e eram fruto de todas as mazelas sociais já classificadas pelo vade-mecum da psicologia e da psicopedagogia, no pleno frescor dos doze ou treze anos. Não lembro bem como rebelião começou... acho que foi assim: eu pergunti a eles quem viria buscar livros comigo. Num gesto de grande euforia participativa, todos começaram a pular ao mesmo tempo e gritar: eu! eu! eu! Logo, estavam saindo pela porta feito uma boaiada ensandecida. Um deles se atirou no chão e começou a gritar: "Comida de Exu! Comida de Exu!" Era o "batuqueiro" do cólégio, que costumava dançar em cima da mesa dizendo que estava possuído pela Pomba Gira. Homossexual, gordo, negro, pobre e "macumbeiro": não preciso dizer que era alvo de todos os preconceitos possíveis.
Um outro, achando aquilo bonito, se atirou também ao chão e começou a imitá-lo.
Daqui a pouco, um grito de protesto: "O Juliano (nome fictício) tá enfiando o pau no cu da vaca!!! Professora, faz alguma coisa!!!" A pestinha ensaiava enfiar um cabo de vassoura na retaguarda de uma vaquinha que pastava calmamente do lado da sala de aula...
Não lembro como terminou... deve ter sido um daqueles dias em que volto pra casa com a sensação de que fui atacada por uma turba de obsessores...