Há um tempo atrás, estava lecionando a noite, para uma turma de umas seis almas viventes... nesse caso, como é de praxe, a gente aproveita pra bater um papo com aqueles poucos heróis que enfrentaram a chuva, o frio, ou deixaram de ir no show do "Tchê Garotos" pra assitir nossa aula. Não dá para passar revisão de prova, nem iniciar matéria nova, nem atividade alguma que tenha qualquer finalidade atrelada aos sagrados "conteúdos"...
Pois bem, tentávamos não dormir. Não sabíamos sobre o que conversar. Um dos meus queridos pupilos achou legal mostrar os toques do seu celular, mas foi fulminado com um olhar que deverá lhe trazer algum dano cerebral daqui a alguns anos...
Alguém teve a idéia de me pedir que eu contasse alguma história engraçada ou ridícula dos anos em que dei aula. Lembrei dessa:
Eu dava aula em uma escola que ficava cravada no meio de um parque. Árvores, vaquinhas pastando... no pátio da escola! Não tinha muro que marcasse os limites entre o parque e o colégio, e recebíamos a visita de todas as espécies animais que transitavam pelo local.
Naquele dia, eu estava em uma sexta série. Eu era uma jovem professora comprometida com o desenvolvimento intelectual e humanos de meus alunos. Eles, serezinhos que pipocavam hormônios e eram fruto de todas as mazelas sociais já classificadas pelo vade-mecum da psicologia e da psicopedagogia, no pleno frescor dos doze ou treze anos. Não lembro bem como rebelião começou... acho que foi assim: eu pergunti a eles quem viria buscar livros comigo. Num gesto de grande euforia participativa, todos começaram a pular ao mesmo tempo e gritar: eu! eu! eu! Logo, estavam saindo pela porta feito uma boaiada ensandecida. Um deles se atirou no chão e começou a gritar: "Comida de Exu! Comida de Exu!" Era o "batuqueiro" do cólégio, que costumava dançar em cima da mesa dizendo que estava possuído pela Pomba Gira. Homossexual, gordo, negro, pobre e "macumbeiro": não preciso dizer que era alvo de todos os preconceitos possíveis.
Um outro, achando aquilo bonito, se atirou também ao chão e começou a imitá-lo.
Daqui a pouco, um grito de protesto: "O Juliano (nome fictício) tá enfiando o pau no cu da vaca!!! Professora, faz alguma coisa!!!" A pestinha ensaiava enfiar um cabo de vassoura na retaguarda de uma vaquinha que pastava calmamente do lado da sala de aula...
Não lembro como terminou... deve ter sido um daqueles dias em que volto pra casa com a sensação de que fui atacada por uma turba de obsessores...
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