domingo, 30 de dezembro de 2012

Felicidade... lá no topo da montanha

A melhor definição de felicidade que encontrei até hoje foi a do escritor norte americano  Kurt Vonnegut: "Se isso não é bom, então o que é"? Mencionava o tio, que sempre dizia que em momentos felizes, devemos lembrar o quanto nos deixam satisfeitos. Essa reflexão ele apresenta em "Timequake".
Cresci acreditando que a felicidade um dia brilharia em minha vida, quando eu conquistasse aquelas coisas que todos diziam que devemos conquistar, ou até mesmo aquelas que são uma pura obsessão pessoal - e que não fazem sentido para mais ninguém.
Em um sonho, encontrei a resposta: como encontrar a felicidade? Eu escalava uma montanha, e sabia que quando chegasse  ao topo, encontraria um castelo onde morava a Felicidade. Sim, com letra maiúscula, de algum modo eu sabia que era assim que se escrevia. Como aqueles conceitos platônicos: o Bom, o Belo e o Justo. Eu já estava quase no topo, minhas mão só precisavam se apoiar para atingir, em um impulso, o cume. Porém, como acontece nos sonhos, eu inexplicavelmente não conseguia - meu corpo parecia pesado, ou alguma força me puxava para baixo. Tudo foi escurecendo, se desvanecendo, até eu acordar. Fiquei muito tempo meditando sobre esse sonho: e se eu tivesse chegado ao topo, se revelaria algum segredo de valor inestimável, trazendo respostas a todas as minhas angustias? Eu encontraria um conselho, um caminho a seguir, que mudaria minha vida?
Hoje voltei a pensar no sonho. Acho que encontrei a resposta. A tal "Felicidade" que buscamos encontra-se sempre um pouco mais acima. Você nunca chega ao topo da montanha: na verdade, esse topo é uma ilusão que você mesmo criou, acreditando que seguindo um determinado projeto de vida, em algum ponto se atingiria o "grand finale", como recompensa pelo seu esforço: um lugar de conforto, estabilidade, o fim das dúvidas, angústias e frustrações de todo o dia.  É como li em um livro de psicanálise jungiana (e me permito não lembrar o título: Paulo Coelho sempre mencionou coisas que lia sem citar a obra e foi premiado pela ABL.). Um executivo de sucesso, na meia idade, descreve a um jovem empreendedor o que foi sua vida: galgou todos os degraus da escada que o levaram ao topo daquilo que almejava. E quando finalmente chegou, viu que tinha apoiado a escada no lugar errado.
No Ensino Médio, você acredita que um diploma universitário é a suprema realização de sua vida. Depois de formado, inveja os mestres e doutores. Se vier a ser um deles, sempre haverá aquele seu colega que, segundo a sua concepção, recebeu os louros que deveriam ser seus. E assim será com a sua profissão, o seu casamento, o sucesso dos seus filhos. Ficará eternamente correndo atrás daquele lugar que acredita ter sido reservado a você no pódio dos vencedores.
Não penso que o problema seja o fato de querermos ser melhores em tudo o que fazemos. Não somos monges budistas que vivem na serenidade da ausência de qualquer forma de desejo. Devemos ir adiante, expandir horizontes. O problema é que estamos intoxicados com tanta propaganda, tantas boas intenções de gurus de auto-ajuda, tantas imagens de gente bonita e sorridente, famílias perfeitas, moças de curvas milimetricamente simétricas, tecnologia de ponta para resolver todos os problemas do cotidiano e nos entreter, design arrojado, tudo para nos mostrar os vermes que somos, e como a felicidade dos outros é sempre maior que a nossa. Tem sempre alguém para nos dizer que devemos ser autênticos e nos valorizar, desde que isso signifique comprar o produto que estão vendendo.
Desaprendemos a ser felizes, assim como não sabemos mais como ser infelizes. Vivemos em estado de torpor e letargia, comprando produtos, ideias e sonhos que nos trazem alguma satisfação, mas ao mesmo tempo um forte sentimento insuficiência. Sequer podemos nos entregar a nossa angustia, porque isso vai contra a lógica do "continue adquirindo, uma hora você encontra o produto certo."
Se podemos ser felizes? Acredito que só há uma maneira: quando abandornarmos nossa expectativa de felicidade enquanto recompensa futura e pudermos viver no presente,  e por alguns minutos apenas, repertirmos para nós mesmos: "se isso não é bom, então o que é?"
Cheguei a essa conclusão hoje, em um dos meus dias negros, em que eu catalogava frustrações, culpas, ruminava decisões ruins, incapacidades, projetos inacabados e me comparava com pessoas bem sucedidas - sim, a felicidade do outro é sempre melhor do que a sua, pode acreditar. Porém, ao brincar com meu filho na piscina do clube, alguma coisa estranha - um insight - mudou meu humor: senti que se não aproveitasse aquele momento para ser feliz, nada mais haveria de se esperar de felicidade nessa vida. Outras crianças se aproxivam, pediam os brinquedos dele emprestados, outros pais e mães cuidavam dos pequenos.  E nesse momento, brinquei como há muito tempo não me permitia.

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