Se fossemos escolher os pensamentos que seriam inscritos em nossa lápide, o que colocaríamos?
Li a respeito de um psiquiatra que fazia essa pergunta aos seus pacientes. Mórbido? Ele obtinha excelentes resultados no processo de cura.
Afinal, se pudéssemos definir a nós mesmos dentro de umas poucas linhas pelas quais gostaríamos que fossemos lembrados para a posteridade, o que diríamos? Reproduziríamos aqueles pensamentos auto-punitivos inúteis sobre os quais ficamos martelando por várias horas, a respeito do que disse o chefe, o namorado, o EX namorado (pior ainda), a mãe, o pai, os professores, os filhos? O que eu colocaria no meu epitáfio? Algo do estilo: Giórgia, que não conseguia manter organizado o seu roupeiro. Giórgia que perdeu 3 carteiras de identidade. Giórgia, que entrava em depressão por pensamentos completamente inúteis. Acho que não seriam bem essas observações que eu colocaria, embora eu tenha que reconhecer que já perdi horas inúteis me revirando em torno de tais picuinhas. Mas porque será que o que menos importa a nosso respeito são justamente aqueles julgamentos que mantemos por mais tempo em nossa consciência?
Há aquele maldito hábito que desenvolvemos de somente nos enxergarmos a partir dos olhos de outros. Ou pela maneira que nós acreditamos que outros nos enxergam. Criamos nós mesmos os monstros que distorcem a nossa auto-imagem, e os atribuímos à criação de outrém.
Porém, de uma coisa tenho certeza: passaremos muito mais tempo mortos do que vivos. Então porque se punir e criticar tanto por coisas tão pequenas? E depois que morrermos, a imortalidade consistirá em deixar algo que persista para os que virão: ensinamentos, exemplos, registros... e de que importará se o armário era organizado? Se a casa estava limpa ou não? Deveríamos formar nossa auto-imagem a partir de coisas que persistem, e não de futilidades.
Afinal, o que vou escrever na minha lápide? Talvez... "eu amava livros", ou "eu conquistei amizades sinceras"... "Giórgia, que compreendeu o valor de uma boa conversa, profunda, íntima, sensível, e que aprendeu a ouvir".... "procurei o sentido da vida, não achei, mas ri um bocado e me diverti diante desse absurdo que é estar vivo... valeu a pena não ter encontrado o dito sentido!"